quinta-feira, 20 de agosto de 2009

quando as luzes podem adormecer

às vezes tenho impressão de que quando a vida é bem vivida, quando não é uma vida às meias, fingida, interpretada, uma vida mentirosa, quando a vida faz valer seu nome, às vezes tenho a impressão de que quando a vida é vida, enfim, ela é sempre iluminada, seja de que luz for.

Pode ser a luz branca do hospital, a luz da sala, a luz do banheiro escuro, a luz da luminária nova, a luz da manhã,a luz da nossa cidade, a luz negra, a luz branca, a luz sem nome. A vida tem forma, e contorno, e sombra, e luz.
A luz do mês de setembro, a luz que já foi, o fato é que - como se fossem transístores movidos à vida - as luzes estão lá. E continuam vivas, acesas piscando e iluminando a vida, as experiências, o que fui e o que vivi.

e às vezes, às vezes, numas dessas curvas de esquina, bem chatas e ruins, as luzes têm que adormecer, se apagar, ficar quietas e parar de iluminar os sonhos.


porque elas já foram. e não são mais.

perduram porque o caminho é longo, mas a fonte já se apagou.

e o que as sustentam é a memória do que um dia já foram,e a luz persiste, querendo vingar.


mas a vida não é a luz das estrelas já mortas.
e, às vezes, a gente tem que deixar as estrelas dormirem.

que triste.


eu vou ser mais específica, porque eu odeio metáforas.

a gente vai lá e vive uma coisa linda, uma coisa que faz sentido, e isso é o bastante. às vezes a gente vai lá e vive uma coisa que faz muito sentido e isso é mais que o bastante, isso é brilho de estrela .

mas aí sei lá o que acontece, muita coisa acontece, e o sentido fica sem sentido. aquilo que outrora se encaixava tão bem, tão certo, tão sem atrito, fica pedindo para dar certo. E se pede, é porque já não dá.

e aquele belo holofote, ou aquela bela luz de lamparina lua, sol, lanterna, qualquer uma, que me iluminava, e iluminava mesmo a vida, é a memória do que já foi um dia.

e é duro, difícil, dizer adeus.

mas as vezes,as luzes precisam adormecer,e a gente precisa saber que acabou.

mesmo que isso me signifique um céu sem estrelas.


e é uma droga.





e me desculpem pelo post brega.

mas é que, às vezes, o amor é assim.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

a porca da gripe

O problema da porca da gripe é que vêm uns calafrios no corpo, dor nas juntas e dor de cabeça e você já se pega pensando que é isso, é o fim de tudo, tchau.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

tristeza e consciência

- sua tristeza é consciência - ele disse.
- consciência do quê? - perguntei, voz de criança e chorando.
- da irrealidade das coisas, da irrealidade das pessoas, suas vergonhas, seus teatros. você tem que assumir a sua consciência.
- e ficar sempre triste?
- um pouco.
- ...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

controle e descontrole

algumas coisas a gente controla, outras, descontrola. Óbvio. Precisa ser muito psicopata para achar que controla tudo nesse mundo.

A gente não controla os outros, por exemplo. O amor e desamor do outro, o trânsito, o motorista bêbado, o mendigo da esquina, a menstruação que vem sem aviso. Não controla o amigo, a amiga, o marido da amiga, a mulher do amigo. Não controla nem pai nem mãe, e provavelmente controla bem pouco os filhos. Não controla a memória, não controla o coração, não controla o que diz e, às vezes,nem o que faz. Não controla o que sente ou o que deixa de sentir. não controla o tempo, nem o passado nem o futuro, e o presente, tenho impressão, é como os filhos, provavelmente a gente controla bem pouco o presente também.

As coisas nascem, morrem e crescem, ou em ordem inversa e até aí grande novidade. Precisa ser muito psicopata para achar que controla tudo nesse mundo . Mas, às vezes, de vez em quando, dá tanta, mas tanta vontade de poder dar uma controladinha nas coisas...

segunda-feira, 16 de março de 2009

a vida anda

Quais são os indícios de mudanças? A gente vai e vive os dias e de repente se dá conta de que algo mudou, de fato e de maneira profunda, que a vida já não é mais a mesma de um tempo atrás.

O Alex fala que a namorada virou namorada-mesmo, quando o porteiro já não interfonava para avisar que ela estava subindo. Eu passei a dar aulas-mesmo, senti-me uma professora de verdade, quando não precisava ficar lendo tudo o que havia preparado e sabia o que tinha que dizer, pelo coração e pelo saber.

Um dia, a calça muda de tamanho, e você passa a usar uma numeração maior ou menor. Um dia você acorda e se dá conta de que os fios de cabelo estão definitivamente brancos demais e passa a pintar os cabelos. Um dia você percebe que não consegue mais dormir sem antes ter falado com o alguém. Os móveis mudam, as pessoas envelhecem, os sentimentos envelhecem, os sentimentos mudam, casais separam-se e amigos tão próximos tornam-se distantes.

São estranhas as mudanças da vida. A gente vive no presente e ele parece sempre eterno. Quando a gente gosta de alguém, não tem essa de imaginar que algum dia esse sentimento pode mudar, que tudo aquilo que significa tanto àquela hora algum dia não significará mais nada, ou será apenas uma lembrança de uma época que já passou. É muito estranho lidar com os novos territórios que a vida traz, se readaptar, e se reconhecer novamente, a cada nova mudança, seja da cor de cabelo, do jeans da calça, dos amigos que agora são pais, de um coração que não é mais o mesmo. Eu vivo me surpreendendo comigo mesma.

Ontem havia um novo homem tomando café da manhã de domingo na minha casa. Um ritual tantas vezes repetido,do domingo de manhã, da saída para a compra dos jornais, do pão, da música, do café da manhã lento. Um momento sempre bom e de extrema intimidade. Olhei para ele e nele vi os outros homens ( não são tantos, são bem poucos) que estiveram ali, naquela situação, do domingo preguiçoso de manhã, do café da manhã sem pressa e bom, de tanta intimidade.

Olhei e pensei: a casa é a mesma, eu sou a mesma, e é tudo tão diferente. Para onde foram, todos os outros futuros, todos os outros domingos?

E me deu uma melancolia porque me deu uma sensação muito forte de que de fato os momentos passam, que mesmo aquilo que a gente achava que ia durar muito não dura tanto assim, e eu - mesmo feliz e inteira ali naquele momento - senti saudades de muitos cafés da manhã passados. E de quem eu fui em cada um deles. Saudades e um enorme amor, muitos enormes amores. E esse novo homem, paciente, ouviu minhas histórias, me abraçou, e um novo domingo se fez. De novo e sempre.Sempre.

ai, ai...

segunda-feira, 2 de março de 2009

uma semana

em primeiro lugar, quero agradecer muito a todos os comentaristas do post anterior. Lá eu havia dito que escrevo aqui para que ninguém leia. Que é um exercício-diário-contra-a-loucura. É mentira. Óbvio. Escrevo na esperança que uma pessoa me Leia. Não uma pessoa específica, mas uma uma pessoa aí, por aí.
Fazer uma diferença na vida de alguém é para mim uma felicidade. E uma necessidade.

Isso é uma justificativa da existência: fazer alguma diferença em algum dia de alguém.

É claro que eu também sou imbuída dos ideais que dizem assim que eu tenho que fazer uma diferença no meu dia, por mim e de mim e para mim.

Que para minha vida, o dia, cada dia, tem que ter Sido. Uma ousadia, uma diferença, algo que o fez valer e valer a pena de ter sido ser vivido. De mim, para mim, e "ninguém nunca soube...." e tudo bem, ninguém nunca precisa saber.

Sim, esse é meu mote também, mas confesso que quando sei que meu dia pode ter modificado o dia de alguém... seja pela minha beleza - que alguém viu, àquela hora, ali, e parou para ver e isso modificou o dia desse alguém -
seja por alguma coisa que eu disse - e alguém ouviu, e parou para ouvir, e isso ecoou na cabeça de alguém e isso modificou o dia de alguém....
seja por um gesto meu, que seja só meu - só e somente meu - , e que alguém viu, e enxergou, e reconheceu como meu, e só meu, e catalogou, e parou e reparou, no jeito que eu ando, no jeito que eu mexo minhas mãos, no jeito que eu sorrio, e alguém me viu, e parou para ver, isso já valeu o dia para mim.


e por isso queria agradecer às pessoas que comentaram meu último post.
voces valeram uma semana para mim.

nem ia escrever isso.

mas escrevi.
depois explico.

obrigada.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

o choro dos alunos

atenção: o texto foi revisado e agora está um pouco melhor. : )

Ser professor é lidar com a dor dos alunos.

Quanto mais novo for o aluno, mais a dor é explícita. Quanto mais velho, mais escondida, dissimulada, mas a dor vem e se não veio nunca, ouso dizer que a tarefa do professor foi falha.

Pode ser a dor da descoberta de um limite, pode ser a dor da regra que não se quebra, a dor de um novo conhecimento que coloca em questão todo o mundo tal como era conhecido, a dor que implica atingir e ultrapassar um limite.A dor de ir para a escola, a dor de tirar uma nota baixa, a dor de um amigo que diz uma coisa ruim... O aprendizado é uma delícia, e uma das medidas da felicidade é ultrapassar nossos limites e alcançar novas alturas, mas isso não acontece sem dor.
Se foi sem dor, não foi.

Eu dou aula para crianças, da antiga quinta série, hoje sexto ano. Crianças que estão chegando ao curso ginasial e enfrentam um monte de medos novos e um monte de desafios. Uma aula típica do sexto ano é assim:
Você começa a escrever na lousa.
Quinze pessoinhas levantam a mão, ou começam a falar mesmo, sem levantar a mão nem nada:
- é para copiar?
você responde o que até então parecia óbvio:
- sim.
você vira de volta para a lousa, e novas mãos se levantam:
- pode copiar de lápis?
você responde, dura:
- não.
Uma aluna começa a sofrer:
- mas eu já comecei a copiar a lápis!!! E agora??? vou ter que apagar tudo? passar a caneta por cima? começar tudo de novo? vou tirar um zero?
você, que só queria saber de ensinar o que são substantivos, só isso, respira fundo e responde:
- é para copiar, e à caneta. Se você começou com lápis, continue à caneta e depois você passa a caneta por cima do que foi escrito a lápis e fica tudo bem.
Mais mãos se levantam:
- Mas se eu copiar à caneta eu vou errar, e aí? O que eu faço????
- Você passa um risco em cima do que errou e pronto, continua escrevendo.
e, pobre de você, professor, acha que agora a aula pode começar e você pode falar do processo de nomeação das coisas do mundo. que nada...
- e pode usar branquinho?
- pode.
- Mas eu não trouxe branquinho...
- coloca o branquinho depois...
- mas minha mãe...
Quando colocam a mãe no meio o professor sabe que é a hora de parar de dar ouvidos às questões existenciais dos alunos:
- Não em interessa sua mãe. Copie. à caneta. Pronto. Vamos lá.
É isso, todos os dias, por uns dois meses.

Hoje todos tinham que entregar o caderno de gramática. E havia matérias para passar a limpo, do ano passado. Quando começo a falar que hoje é o dia da entrega, vejo uma aluna chorando. O queixo da bichinha tremia. Os olhos cheios d´água. Ela era a aluna mais responsável da classe. Estava a um minuto de se desmanchar em lágrimas.
Ignorei.
Segui com a aula.
No fim, chamei a garota:
- Me conta, o que aconteceu?
Logo vem uma amiga atrás, esbaforida, mais bagunçada, mais esquecida, e começa a me explicar:
- deixa eu falar antes!! É que ela - a menina que segurava o choro até agora - me emprestou o caderno dela, que estava completo, para eu copiar. Eu me enganei e achei que era para entregar amanhã, e não trouxe... Nem o caderno dela, nem o meu... Mas a culpa é minha!! E agora, ela vai ficar com z?

Quem for homem, independente do sexo, que me responda:
o que fazer?

Logo todas as questões morais e éticas aprendidas nos cursos da universidades passam pela cabeça. Democracia é tratar todos iguais. Havia um prazo. O fato é que o caderno da chorona não foi entregue no prazo . quem não entrega o caderno no prazo leva z. E eu vi o olho da menina. Aflita. Angustiada. E a aflição da amiga esquecida. Ai meu deus.

Inventei uma solução maluca, pois ali na hora da aula, quero ver quem consegue ser Salomão:
- então, você que esqueceu os cadernos, fica com as duas punições: dela e a sua. Ao invés de eu abaixar um conceito de cada uma pelo atraso, eu abaixo dois seus.
- Então se eu tirar A eu vou ficar com C?
- Sim.
- A minha maior nota vai ser C?
- Sim, mas a Isa fica com A. Tchau.

Fui embora, bem incerta da minha decisão. Eu heim? Coisa mais difícil que é ser professora.

Passa um tempo, o dia acaba, e a menina que esqueceu os cadernos vem me procurar:

- Lu!!! Amanhã eu não venho na escola! Vou viajar, já está marcado! Meus pais que marcaram... como vou poder entregar os cadernos??
Quase respirei aliviada. Aquela era mais fácil:
- esse problema é seu. Se os cadernos não estiverem aqui amanhã, as duas ficam com z.
e a menina foi embora para casa, aflita.

E hoje também conversei com uma ex aluna minha, que foi minha aluna por três anos, e agora está no colegial. Ela havia me escrito um recado no orkut dizendo assim:
- Eu não aguento de saudades de você.

Peguei a moça pelo cangote e falei:
- hoje você vai almoçar comigo. e para levar uma bronca.
Depois do meu blá blá blá falando que ela tinha que crescer, se desprender do ginásio, curtir os novos professores e amigos, e etc ela começou a falar:
- lu,eu não sou de chorar, mas eu estou chorando no meio das aulas. Eu olho para os lados e vejo que das trinta pessoas da classe eu só conheço sete. Só sete!!!Eu começo a chorar. Como eu vou viver num mundo assim? E quando eu for para a faculdade então? Aí que eu não vou conhecer ninguém!! Socorro lu, me ajuda.

Sorri, mudei de assunto e começamos a conversar sobre a vida:
- E sua mãe? como está?
- Minha mãe tá bem, o problema é ela comigo.
- Como assim?
- eu sempre fui muito ligada a minha mãe, a gente sempre foi muito próxima, mas ela me proíbe de voltar para casa sozinha. Eu moro do lado da escola, poderia ir andando, e nessas, poderia fazer os programas que o pessoal faz depois da escola, mas ela não deixa. sabe, é chato. Quando ela não vem me pegar, eu tenho que esperar um irmão meu vir, e é super chato, sabe? Eu queria que minha mãe deixasse eu andar sozinha pelas ruas...
Contive meu riso, pois aquela era a menina que reclamava porque na classe dela de trinta pessoas, ela só conhecia sete.
Continuamos conversando...e o Paulo?
- Nos separamos, lu. Sabe, a gente nunca tinha assumido nosso namoro, porque... sabe? Tinha um monte de casalzinho da classe que começava a namorar, e falava para todo mundo e depois de duas semanas estava brigado. Então a gente nunca falou assim: estamos namorando. Mas a gente sempre conversou sobre a gente. E agora...

continuamos a falar, sobre banalidades, sobre a aula de teatro que estava acontecendo no pátio, sobre outras coisas. De repente, ela pergunta:
- Lu, quando você se separou, como é que foi?
- Como é que foi o quê?
- O que você faz com tudo o que você sentia e agora não sente mais? O que você faz? Para onde vai tudo o que aconteceu e que você viveu? Onde ficam essas coisas?

e eu respondi que eu não sabia. Mas achava que essas coisas ficavam na gente, como uma memória feliz de um curso ginasial familiar que depois, quando a gente vai para o colegial, não existe mais. Que a gente tinha que aprender, reaprender, a viver no agora, nesse novo mundo.
E é difícil isso, porque a gente tem que se reaprender, se reconhecer, mas que é assim, não tem jeito, as coisas mudam, e é assim e é até bom, porque sofrimento significa mudança, crescimento, e é bom que as coisas não fiquem sempre do mesmo jeito.

Ela me olhou, pouco convencida.
Acho que eu estava pouco convencida também, mas ao mesmo tempo estava muito convencida de mais coisas do que ela. E pensei: esse é meu papel. Não ligar tanto para essa dor, e mandá-la seguir em frente, sozinha, porque é isso que é a verdadeira educação.

é duro, e bom, lidar com o choro dos alunos. quando a gente cresce, parece que a gente chora menos. Não sei porque, já que as dores continuam ali. E eu queria levantar a mão e que alguém me dissesse, agora, se o traçado da vida é a lápis ou à caneta.
Queria, e não queria. Por outro lado é bom, não estar mais na quinta série.

Psicalistas

Quem é filho de psicanalista não é filho de psicanalista, é filho de psicalista.

Outro dia saí prum bar e de repente, à mesa, em meio às cervejas e conversas boas de bar, demo-nos conta que éramos três, enfileiradas ali lado a lado, três moças filhas de psicalistas. A mesa emudeceu e todos nos olharam com um misto de pena e sei lá o quê. Sim, éramos sobreviventes, e o destino havia nos unido:

- Vamos mudar de lugar!!- resolvemos, não sem antes percebermos que as três não só eram filhas de psicalistas mas de mães psicalistas, o que torna tudo mais grave.

- Mas são três linhas diferentes... - diz o amigo, conciliador, tentando diminuir o evento cósmico que ali se dava.

Então começou a brincadeira - pedante, eu sei, porém charmosa, talvez, aos interessados e iniciados nessa superstição:
adivinhar, pelas filhas, qual era a linha de cada mãe.

- Hum... você é judia? - pergunta o primeiro investigador.
- Sim! - responde a rechonchuda, ar desafiador e sexy.
- Ok, freudiana. - responde o rapaz. Ele estava certo.

- Você é argentina? - perguntou para a segunda, perua, um pouco para além do nosso gosto para uma mulher assim tão bem resolvida, mas estilosa e legal:
- sim... respondeu a menina.
- Lacaniana!!! - falou o rapaz. E ele estava certo. Foi um tapa na cara de muitos incréus. O cara era bom.

- Seu nome tem flor no meio? - perguntou à terceira menina, com saia indiana, que esquecia de pentear o cabelo de manhã:
- Sim... - reponde a guria, mal humorada, perguntando-se se deveria deixar crescer uma franja emo.
- Tem complemento indígena?
- Ok!! Todos me chamam de Rô, mas meu nome é Rosa Erecê!!!- revela a garota, quase gritando. Confesso que dava para vislumbrar, entre a revolta, uma ponta de orgulho pelo nome esquisito. O moço ri, logo em seguida faz cara séria e solta o veredicto:
- Reichana. Terapeuta corporal, tem incenso na sala da sua mãe...

A mesa estava em silêncio.

Estávamos ali expostas. As três filhas de psicalistas. Amigas por livre vontade. Que Freud nos perdoe mas puta-que-pariu.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

seis segredos

A Camila me pediu para contar seis segredos. Ora, se são segredos não vai ser aqui que vou contá-los, embora o número de leitores desse cantinho seja tão reduzido que mesmo estampados aqui os segredos talvez continuem quietos nos seus cantos, silenciosos e intocados.
Comecei a pensar sobre segredos e cheguei à conclusão que tenho poucos pouquíssimos segredos. Segredos de cama não são segredos, são intimidades que devem ser sussurradas ali, na cama, ou no ouvido de quem quero que vá para lá. Segredos de família pertencem à esfera do divã, ou dos barracos em família, e como isse aqui não é um filme do Lars Von Trier também não é o caso de proclamá-los assim em praça pública.
Os segredos das minhas amigas confiados a mim, não sou eu que vou revelá-los - se bem que um segredo contado é um segredo que pede para ser espalhado, louco para deixar de ser segredo e passar à condição de notícia.

Mesmo se transformasse isso aqui em cama, divã e ouvidos amigos ( e o blog, às vezes, é tudo isso mesmo ainda que sem sê-lo de fato) não lembro de seis segredos. Acho que meus segredos verdadeiros ficaram tão quietos nos seus cantos que me esqueci deles, então que eles fiquem por lá. Em suma, sou do tipo que senta e conta tudo da vida, para todo mundo, e gosto de pessoas assim e gosto que seja assim.

De qualquer maneira, o convite é gentil, de pessoa amiga, e aqui vão então seis coisas que quem não morou comigo não sabe sobre mim:

- durmo abraçada com dois bichos de pelúcia, um leão e um bicho preguiça. Os bichos me foram dados pelos dois homens que amei na vida, um passado e outro ainda presente. O engraçado é que os bichos revelam muito do que é cada um desses homens.

- não tenho um cachorro porque não tenho coragem de me responsabilizar por nenhum ser vivo nesse momento, a única planta que tenho em casa vive à mingua, coitada, porque ela não fala e não se mexe e eu esqueço que ela é viva.

- dizem que eu sou a mulher mais mulherzinha do planeta, mas eu deixo toalha molhada em cima da cama e sapatos na sala.

- não consigo deitar na cama e dormir direto. Preciso sempre ler alguma coisa e gosto muito quando sonho a continuação do que estava lendo.

- sonho em palavras. Reparei nisso ultimamente, meus sonhos são narrativos, quase não têm imagens, têm muitas falas e alguns são pura fala. Acho. Não sei. De qualquer maneira fico contente quando me lembro dos meus sonhos porque fico achando que isso é um sinal de saúde mental. Não é sempre que me lembro dos meus sonhos.

- Quando vou à academia de ginástica fico um tempo grande no vestiário reparando em como as mulheres se cuidam para aprender como é que faz.

é isso. Um beijo Cá.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

um dia

acordei e vi que estava passando mal pelo excesso de pizza da noite anterior. Ainda bem, - pensei - que tudo escorra pela privada. Fiz as contas do mês e percebi que estava já falida, já antes da segunda semana, mas que tinha o suficiente para as contas básicas e decidi que esse será um mês sem compras, sem livrarias, sem sapatos e sem grandes saídas para jantares e almoços e achei até simples tudo isso. Fui ao banco, retirei o dinheiro da faxineira, do condomínio, retirei um dinheiro a mais para a moça que achara a minha carteira e fiquei com o resto, que deve durar duas semanas.
Lavei a roupa suja da semana, arrumei a casa, fiz meu cronograma de como ficarão meus dias. Fiquei assustada: muito trabalho, pouco tempo livre. Uma escolha.
Resolvi finalmente resgatar minha carteira que fora furtada há mais de um mês, uma pessoa a tinha encontrado e me ligara avisando. A pessoa morava em guaianazes, longe bem longe daqui, liguei, pedi desculpas pelo sumiço, e marquei o encontro para as quatro da tarde.
Almocei com meu avô e encontrei minha grande amiga, que me acompanharia na viagem de metrô.Fomos e voltando conversando, duas horas de passeio pelo metrô da cidade imensa, e ficamos ambas mais leves na volta. Quem achou minha carteira foi Dona Rosária, uma senhora que vive de catar latas. Sempre acha documentos. Viu a carteira e pensou: que carteira bonita! vou ficar com ela, estou precisando de uma carteira. Abriu a carteira e ali viu todos os documentos. "Não ia conseguir dormir... Meu sobrinho que ligou para a senhora." Ligaram para o lugar onde faço as unhas, de lá, me deram o telefone do sobrinho, que deu o telefone da vizinha da D. Rosária, que veio me encontrar e devolver a carteira.
- Que bom que ainda há pessoas conscienciosas nesse mundo, comentou meu avô.
Fui para casa, sem programa para o final de domingo, passei no supermercado e comprei comida para mim e para a faxineira, que virá depois de amanhã. Tenho o que comer de manhã e à tarde, e tenho lanchinhos para não ficar gastando dinheiro na rua.
Comecei a anotar o que como para descobrir que somente no almoço com o vovô já tinha consumido quase o dobro do necessário.
Na minha casa, organizei o dia de amanhã, reli e me assombrei com o Estrangeiro, li um capítulo de um livro lindo e vim escrever.
Ele não ligou, nenhum ele ligou. Tenho saudades e me falta um corpo para me abraçar, mas o dia aconteceu e eu fico com uma sensação de que venci.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

enquanto isso, no ônibus...

... o cobrador fala:
- a próxima parada é o hospital das clínicas. Quem for cuidar da saúde, é para descer aqui mesmo. Agora, quem descer aqui e não tiver jeito... aí... é a última parada mesmo.

e mantém sua cara, impassível, de cobrador cansado que já viu tudo nessa vida.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O narcisismo da gripe

A xpressão é da minha amiga Nina, que estava gripada mas topou sair porque "é bom eu sair desse narcisismo da gripe".
Achei fantástico.
É assim: a gente fica gripada, a cabeça dói e o corpo dói, e aí de repente começa a doer tudo o mais. A gente se concentra nos graus da nossa febre, em cada um dos nossos ossinhos, no nariz que não pára de escorrer. E a gente pensa assim:
- estou gripada, estou gripada, estou gripada...
e fic ana cama, gripada, pensando na gente mesmo e em como a gente está gripada.
É o narcisismo da gripe.

Em alguns casos a síndrome não só pode como sempre parece evoluir:
estou gripada, estou horrenda, não tenho remédio, não tenho dinheiro para comprar remédio, não tenho me alimentado bem, não me cuido bem, não tenho quem cuide de mim, a vida é uma merda, a existência é uma merda, nunca mais vou sarar, estou gripada, meu nariz está do tamanho de uma melancia, acabou o lenço d epapel, acabou omundo também, eu, eu , eu - gripada.

Então, minha amiga, que não é boba nem nada, se obrigou a sair de casa, e ficar gripada ao lado de gente, para sair do narcisismo da gripe, tirar os olhos do termômetro da doença própria e perceber que o mundo continua girando, que há inclusive gente se amando, chorando, cuidando dos filhos, se cuidando, se querendo, se largando, envelhecendo, nascendo, vivendo.
Sair do narcisismo da gripe é sair de um certo gozo com o sofrimento próprio. A gente até pode falar que não, mas é bem fácil se afogar em nossa própria doença, de tão encantados que ficamos às vezes com ela, ou elas - porque as doenças são várias.

perigoso isso, do narcisismo da gripe. É necessário tomar cuidado com ele e, às vezes, um instante que seja de olhar para fora, já resolve. nâo há nada como perder um pouco da própria importância.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Histórias de mulheres

Rebeca tem trinta e cinco anos. Ela estudou nas melhores escolas de sua cidade, fez faculdade de design, casou com advogado, teve um filho. Quando estava grávida, Rebeca rezou para que seu filho não fosse uma menina. "Os homens têm que dar duro na vida por cerca de cinco anos, depois da faculdade, é quando eles têm que dar muito duro, achar uma mulher para casar e lhe dar filhos, engrenar no emprego, depois que engrenam, claro, eles continuam trabalhando duro, mas de certo modo a vida para eles está feita. A mulher tem que dar duro a vida inteira." Rebeca parou de trabalhar, para cuidar do filho. O seu marido é um advogado bem sucedido.

Paula é uma mulher de cinquenta anos, super empresária, bem sucedida, mãe de dois filhos, recém separada: - o meu marido pode ficar grisalho que todos vão achar sexy. Se me virem com um fio de cabelo branco, todos vão comentar como estou descuidada.

Lucia mora sozinha, é muito bem sucedida, solteira, sai, tem uma vida agitada. Um dia começou a receber torpedos em seu celular e passou a ser assediada por torpedos. Descobriu que quem mandava os torpedos era o porteiro do seu prédio, que descobrira o número do celular dela. Ficou durante muito tempo com medo de sair e voltar para casa, até o proteiro ser demitido. " Se fosse um homem morando sozinho, e não eu, isso nunca teria acontecido. Se eu tivesse um marido, isso não teria acontecido. "

Paula contou das prioridades da vida dela: "em primeiro lugar vem minha filha, depois meu marido, depois minha casa, depois meu trabalho, depois eu" e contou das prioridades do marido dela: "em primeiro lugar vem nossa filha, depois o trabalho, depois ele, depois a casa, depois eu. Quer dizer, eu talvez venha antes da casa, mas acho que não, ele sempre reclama que a casa está mal cuidada."

Ana é uma pesquisadora de sucesso, acabou de publicar um livro e descobriu que está sendo cotada para ganhar um prêmio importante. Me ligou deprimida: "O Roberto está namorando uma menina linda e burra. Se eu ganhar esse prêmio é que eu nunca vou achar um homem mesmo."

( continua...)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

dor no olho

Nos últimos três dias fui acompanhada por três dores, que foram e voltaram. Uma dor no olho, dor de cabeça, e ontem cortei meu dedo então estou com dor no dedo também. É engraçado porque quando as pertes dos nossos corpos dóem a gente toma consciência da existência delas sempre, o tempo inteiro, como se não pudesse esquecer: tenho um olho, tenho uma cebça, tenho um dedo.
Então hoje estou assim: tenho pelo menos um olho, uma cabeça e um dedo. De resto, tudo vai bem, porque estou me despreendendo de outras coisas que tinha mas que doíam mais que o necessário.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

a minha cidade, a minha casa


Passei mais de trinta dias fora da minha cidade e da minha casa, morando no Planeta Rio, uma cidade Linda. Foi bom, foi muito bom, foi maravilhoso estar na cidade linda, junto a pessoas que eu amo, recebendo e dando amor, sem saber de quase nada das coisas de cá. Agora voltei, e bola para frente. Trabalho, casa, corpo, escrita. É bom, muito bom também,estar de volta a minha casa, mais forte, mais inteira, mais segura, cheia de projetos e coisas. só para contar. Estou bem. :)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

comendo sozinha

( para os eventuais leitores e leitoras: a blogueira pede desculpas mas estah em terra estrangeira, em computador alheio e sem nenhum acento ou mesmo cecedilha. a vontade de escrever estah mais forte que a vergonha na cara - que eh nenhuma- entao vai assim mesmo, sem acentos nem nada)


Eu me separei ha um ano. Ha um ano tenho aprendido a nao conjugar mais o verbo na primeira pessoa do plural e passar a usar e descobrir o EU, o que eu faco, o que eu gosto, como transo, quem sou, independente do outro, de um nos.

Quando eu me separei tinha a conviccao de que era isso mesmo que eu queria, saber ser feliz sozinha, curtir minha casa, descobrir um prazer em estar solteira, morando sozinha, sem aquela necessidade de existir um outro que preenchesse e desse sentido aaquilo que eu sou. Eu lembro ainda que as principais dificuldades estavam nas pequenas coisas do dia a dia, chegar em casa e nao ter ninguem que viesse me receber, nao ter recados na secretaria eletronica nem e-mails novos chegando nem ninguem para contar como havia sido o dia. Fazer compras para mim e somente para mim, e, o principal, ter um vida voltada para mim, cujos horarios e desejos e tempos giravam em torno de mim mesma. Sao poucas, pouquissimas as pessoas que levam vidas assim.

A maioria das pessoas vive em funcao de outras pessoas. Maes vivem em funcao dos seus filhos, mulheres em funcao dos seus homens, homens em funcao das suas mulheres, homens e mulheres em funcao de suas familias. Chamamos isso de responsabilidades, de amor, sei lah, o que sei eh que sao poucos os adultos que conheco que vivem em funcao de si mesmos, primeiramente e principalmente em funcao de si mesmos, seja acompanhados ou sozinhos.
Um monte de gente, eu sei, poderia dizer que eh isso que eh ser adulto, ou mesmo ser humano, a gente vive para cuidar da familia, do outro, para fazer lacos e compromissos e construir relacoes e fazer filhos e construir a casa e tal.
O problema eh que as vezes se vive tanto pelo outro que a gente ateh esquece como a gente eh e deixa, mesmo, de poder ser nos mesmos, de poder, de repente, ateh se o outro nos abandonar um dia, continuar seguindo em frente. O sentido e o eixo da existencia nao pode ficar dependendo de um outro, ateh porque eh muita coisa para depositar em alguem, seja filho, amante, amor, pai, mae, filha, sei lah. Claro que somos nos e os outros, nos e quem amamos, mas sei lah, eu quero ter meus projetos e forcas e alegrias individuais.

Quando me separei tinha todas essas promessas e perspectivas na manga ( responsabilidades, companheirismo, casa, filhos,profissao, salario, futuro garantido, etc) e abdiquei de cada uma delas. Porque havia me perdido de mim, e nao sabia mais quem eu era. Porque nossos caminhos haviam tomado rumos diferentes e nao nos comunicavamos mais tanto como outro dia nos comunicamos, porque nao me sentia completa, nem inteira, porque meu marido entao era para mim um porto seguro.
E nao eh bom? Ter um porto seguro?
Eu nao quis, nao aos trinta anos, nao na minha cama, nao como projeto de vida.

E minha vida era uma especie de porto de seguranca, onde eu sabia que sempre poderia atracar tranquila. Nao me arriscava seduzindo outras pessoas, escrevendo e mostrando o que escrevia, dancando, criando, me abrindo para o mundo. Eh claro que essa eh uma narrativa meio exagerada, quem me conhece mesmo sabe que nunca fui completamente assim, mas me sentia, a certo momento, assim.

E tudo o que eu nao queria era a tranquilidade do porto seguro, queria a aventura da viagem, da descoberta de novos mares, novos portos, queria saber como era esse navio em que morava, e qual viagem queria fazer, queria um barco leve.

No comeco, entao, cada dia era uma descoberta da novidade de estar soh. A que horas eu queria dormir, a que horas queria sair, o que queria comer, como fazia para me divertir, quais os novos programas, como era beijar e ter na cama homens diferentes e novos. Cada dia uma conquista, uma tristeza, uma saudade, uma conqusita.

E entao a vida nos atropela, e meu pai ficou muito doente, e depois se recuperou totalmente, mas isso abriu em mim uma vontade enorme de ter alguem, uma percepcao de que quando a gente estah no hospital doente nao ha nada como alguem que nos ama segurando a nossa mao. Percebi que o amor profundo e o companheirismo sao muito muito valiosos tambem, isso eh obvio, mas ali naqueles dias ficou muito forte para mim.

Nas noites em que ia dormir em casa, nas folgas do hospital, dormia sozinha, e foi dificil pra burro, e nessa hora um homem que estava ali por ali esteve muito muito presente e se fez inteiro, presente, importante.
E entao o amor chegou.
Um amor novo, em todos os sentidos. Um amor que eu nao havia vivido ainda, um amor dos trinta anos, um amor com bagagem, com historia, com coisas para resolver, com outros amores. E eu me entreguei, e me apaixonei, e o recebi em minha casa e me vi casada de novo. Mas as historias continuavam, e continuam e nao eh isso o que importa agora, para esse post.

O que importa agora, para esse post, eh que no segundo semestre eu nao conseguia mais ficar sozinha. Estava na corda bamba entre a perspectiva desse novo amor dar ou nao certo e saindo muito e querendo muito encontrar alguem que se transformasse por sua vez no novo amor.
Nao fiquei em casa sozinha quase nem um minuto sequer. E evitei isso a qualquer e todos os custos. A minha casa era um lugar de festa, de amigos, de convidados, ou um lugar de dormir. Eu nao me apropriei da minha casa, e acho que isso significa tambem que eu nao me apropriei de mim.

Eu gosto e sempre gostei muito de comer. Jah comi muito errado mas independente disso, comer para mim sempre foi um ato de comunhao e importancia. Tenho um fogao maravilhoso em casa, amo cozinhar, e cozinhar eh tambem um ato de amor e compartilhamento. Na minha casa, no segundo semestre, nao cozinhei para mim mesma uma vez sequer. Nao comi sozinha nem uma vez.
Comia na lanchonete, na padaria, lanchava, almocava fora, comia com amigos. A minha geladeira era aquela mesma conhecida como geladeira de solteiro, sem comida, sem nada. As frutas estragavam, tudo estragava, e eu desencanei de fazer compras. Os quadros que tinha para pendurar continuaram no chao, meus cedes degringolaram, e eu continuei sem teve e sem video. Lia em casa, li muito, mas os livros e o interesse a certa hora acabaram tambem, saia sempre que podia, e ficava praticamente todos os dias ateh dez da noite na academia. Nao tinha para quem voltar para casa... para que voltar cedo?


Parecia que a unica solucao era arrumar alguem para comer comigo. e passar o tempo comigo. Ou isso ou nada, Ou isso ou depre. parei tambem de escrever e de dancar, que eram e sao duas coisas fundamentais para mim, e que eu havia parado durante o casamento e botava a maior culpa no ex.



E agora, de ferias, estou me deparando com uma semana sozinha aqui no Rio de Janeiro. E me coloquei como proposito viver essa semana sozinha comigo mesma, bem, me redescobrindo, sabendo do que eu gosto, e podendo ficar sozinha e bem,como eu queria um ano atras, me curtindo, me namorando, ficando assim curtindo a minha existencia, escrevendo, tomando sol, sei lah.

E agora, agorinha mesmo, fiz algo que na minha lembranca nao fazia ha muito tempo. Fiz uma salada bonita para mim, tomates, muzzarela do bufala, azeite, oregano fresco, sal e pimenta do reino, alface, vinho branco. Ninguem viu, soh eu, e foi bom.
Liguei a teve, escrevi, tenho livros e voltei a escrever.

e esse aprendizado que eu me propus a ter, de ser eu, e de ficar bem sozinha, ia quase indo pela cucuia. Eu ateh sei porque. Porque uma vez uma amiga disse que quem fica bem sozinha, quem realmente encara bem a perspectiva de uma semana de ferias solitaria, acaba ficando sozinha mesmo, porque eh tanta concessao que a gente faz para ficar com alguem que quando a gente fica bem sozinha acaba querendo ficar sozinha. e porque eh dificil mesmo, porque eh bom ter uma seguranca, mesmo que imaginaria e ficcional, porque ter coragem para ser eu mesma nao eh bolinho.

Eu nao sei como vou acabar ou nao, nao sei nem se vou acabar alguma hora de algum jeito, mas sei que o que tenho sou eu, e que o sentido da minha existencia nao pode ficar imputado a ninguem .
sei que eh maravilhoso estar junto e comungar a vida com alguem. mas sei, ou quero saber, que eh bom poder curtir uma noite comigo mesma.

O que ele me ensinou

A achar que eu sou bonita e gostosa. A nao precisar dele para achar que eu sou bonita e gostosa. A pendurar as toalhas depois do banho, e cuidar das roupas, para elas estarem sempre lavadas e cheirosas. A fantasiar muito e com liberdade na cama, a gozar com pensamentos, a criar historias. Me ensinou , e procura me ensinar, que esse negocio de angustia da vida, e melancolia da existencia nao sao necessarios, nem bacanas, nem nada, que na vida e nos dias a gente pode simplesmente ser feliz como que nem um cachorro, e eh isso. Me ensinou a amar uma cidade onde me via estrangeira, me ensinou a conhecer essa cidade.Me ensinou que meu jeito de ver o mundo eh unico, e gostoso de se ouvir. Me ensinou a sentir falta do corpo dele, do jeito e do olhar dele, me ensinou a querer domina-lo e ser sua senhora e dona, me ensinou e me ensina, a tocar nele, estar perto estando longe, ser livre ao mesmo tempo que presa, por vontade, por liberdade. Me ensinou o olhar mais carinhoso do mundo, me ensinou o olhar de amor e desejo, me ensinou o olhar de preocupacao e medo,me ensinou a me divertir muito, me deu o cachorro dele e deixou que o cachorro fosse meu tambem. Me ensinou e me ensina a ser segura de mim, do nosso amor, a ficar bem sozinha e acompanhada, a ser independente e ao mesmo tempo estar sempre junto, de maos dadas, ali, cuidando e amando. Me ensinou a dormir nas costas dele, a rir de como ele toma banho, a rir muito, o tempo inteiro, sabendo que sim, parece que sim.