domingo, 31 de agosto de 2008

às vezes acontece

às vezes vem, vem e é assim com se mergulhasse numa onda contra a qual não tenho forças. E às vezes, fico como que resignada, e abaixo a cabeça e digo : que venha, então.
Fico assim: de meia e camisola, percorrendo a casa quase como um fantasma que entrou sem querer em casa estranha.
Ou
me jogo na cama, fecho as persianas, entro no edredon e lá vivo, pelo tempo que for. Leio e penso em tudo o que deveria fazer, e não faço, por birra e teimosia.
Ela vem assim como um ser perdido que se encontra em mim e toma conta da minha pele inteira e me turva os olhos que ficam vermelhos de cansaço. e aparece numa voz fraca, num sorriso frouxo, numa falta de vontade para tudo.
às vezes ela vem, uma melancolia profunda. e parece que nessas horas não há jeito de achar o que era mesmo que me fazia feliz, outrora tão perto. Enumero em silêncio todos os predicados positivos da minha vida, tudo o que é bom e existe, repito para mim mesma que está tudo certo, mas a onda é maior e mais forte que eu. Sou assim. às vezes ela vem, e contra ela parece não haver abrigo nem forças.
Como se eu precisasse, às vezes, de um distanciamento da vida, dos sentimentos, das coisas. Fica um certo vazio, uma apatia, uma indiferença quase, e uma vontadezinha de chorar mas não rola. Como se eu fosse assim um grande vazio a ser preenchido por algo que eu não sei o que é e está fora de mim, e mesmo fora do meu alcance.
Um cachorro ajudava. Nessas horas, ( agora eu já sei o que os cachorros fazem), nessas horas um cachorro nos ensina a simplesmente ser. E ser contente porque sim.
Mas num tem cachorro aqui. E eu me sinto muito, muito sozinha.
O drama é sempre patético, eu sei.
Mas às vezes ela vem. Acontece dela vir. e eu fico assim, dramática e boba.

projetos?

Andam me falando que eu preciso de um projeto.
Minha vida tá assim: dou aulas numa escola que amo, faço ginástica e regime. Leio, escrevo (pouco), tento estar junto dos meus amigos todos, namoro por internet e telefone. Afora o namoro, que é enrolado e que gostaria que fosse mais próximo, está tudo bem, gosto da minha casa, dos meus dias, do meu trabalho, gosto de quem sou. De fato, não tenho nenhum grande projeto me esperando, nem a longo nem a curto prazo, a não ser emagrecer e ficar ainda mais bela, mais livre e inteira. Um projeto de mim para comigo mesma, pessoal e artesanal.
Meu projeto é viver cada dia com atenção e leveza, estar inteira nas coisas que eu faço, fazê-las bem, e ir construindo uma vida boa, feita de dias bons, de horas boas, de bons instantes. Meu projeto não vai além de cada dia. Meu projeto é viver feliz.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Faz um dia bonito em SP.
Eu estou bonita também.
A saudade dói, e eu nem sei o que será de nós.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

vivendo sozinha

Então o meu cúmplice foi lá para a terra onde ele trabalha e mora boa parte do ano, e eu aqui fiquei com as minhas coisas e minha vida.
Uma coisa que sempre conversamos é da importância de termos nossas vidas, cada um, e ele diz que é importante podermos nos sentir plenos e inteiros mesmo na ausência do outro. Isso é importante mesmo, porque é o que garante a verdade do encontro, isto é, estamos juntos porque queremos, e não por medo de nos abandonarmos, de ficarmos sós ou o que seja.
Porque eu aprendi, desde a separação, que a gente é, fundamentalmente, só. Quer dizer, nascemos e morremos sozinhos, e as nossas coisas, as nossas vidas, as nossas dores e alegrias, são nossas, nossa responsabilidade . è preciso estar muito inteiro e autônomo para construir um grande amor e uma grande história.
Vejo minha vida como uma obra de arte, e minha pessoa como uma obra também, a ser sempre esculpida, trabalhada. Sempre em progresso e transformação, sempre mais, sempre melhor. Mais ousada, mais bela, mais louca, mais livre. Tenho um cúmplice profundo, e esse é o projeto dele também, mas agora, meus dias são só meus.
Não há com quem dividir a comida, as contas, o dia.
Sou eu.
E eu me acostumei a tê-lo por perto, bem perto. E agora é se acostumar de novo, comigo comigo mesma.
E eu sou boa companhia, e tenho meus livros, meu corpo, minha escrita e minhas coisas.
Mas namorei muito nos últimos meses, e vi que era bom.
Agora é ver que é bom também esse processo de viver só. E curtir a distância e ver o que ela nos traz.
saudade.
vontade de estar perto.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

a organização dos dias

Cada um tem seu modo e mania, e cada um vive do jeito que escolhe e pode.
Há aqueles totalmente regidos pela ordem do trabalho ou da empresa, e esses pouco têm a dizer sobre a ordem de seus dias. Seus horários de lazer, amor, cuidados, cozinhanças, bebedeiras, amizades, insônias e sexo são regidos pela ordem do cartão de ponto . Poucos conseguem construir seus próprios dias, roubar da ordem da vida tão tomada pelo trabalho um pouco de desordem, e subjetividade. Poucos conseguem se organizar decidindo que gostam de trabalhar até as quatro da manhã e dormir todos os dias até as três da tarde. Isso faz parte de uma vida livre, e é claro que esse negócio de ter que viver e se sustentar e trabalhar aprisiona a todos nós. Já pedi mil vezes que alguém me desse uma renda fixa até o fim da vida, e eu nem precisasse mais trabalhar nunca mais, mas nunca ninguém me ouviu

De qualquer maneira faço um esforço para, dentro do imperativo do horário de trabalho, organizar a vida de modo um pouco mais autônomo e livre.

Isso é se conhecer.
Então minhas manhãs são livres, para que eu faça delas o que bem entender. Todas as tardes, trabalho, e à noite, faço ginástica . É assim meu dia. e que assim seja.

onde estamos

Acontece às vezes de estarmos no outro. O outro nos encontra e mostra, olha: você. Quando o outro é uma pessoa apaixonada por nós, não há alegria maior. Dá força e até sentido para a vida. Ia escrever que o ideal é não depender de ninguém, e estarmos sempre em nós mesmos, e pronto. Mas não. Estamos sempre nos outros.
Eu estou nos meus alunos, que crescem comigo, e escutam ( ou não ) as coisas que eu digo e fazem ( ou não) as coisas que eu peço que eles façam. Estou na minha família, e no jeito como eles me olham e cuidam de mim. Estou nos meus amigos, no meu ex, na minha história. Estou nos homens que me olham com desejo, e nos homens que me olham sem desejo algum. Estou no homem que gosto.
O problema é quando aquele outro que nos faz ter sentido, forma e aparência não pode, não quer, estar junto de nós. Não do jeito que queríamos.
E aí?
o que a gente faz ?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

cuidar de si

então fica sendo importante se vestir, arrumar as mãos e os pés, depilar os pêlos retirando-os todos um a um, colocar a sandália e tudo o mais, porque assim parece que a gente se estrutura e se reencontra, de alguma forma. Porque quando tudo parece que fica meio estranho por dentro, é bom ao menos se olhar no espelho e encontrar alguma forma plausível.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

comidas e comidas

às vezes como como quem cumpre uma tarefa. Por obrigação, porque mandaram-me que coma de três em três horas e pico o tomate porque mandaram-me também que coma alguns nutrientes e me explicaram que eles devem ser coloridos, que o prato não deve ter uma cor só. Junto tomates, ervilhas, miojo sem molho e lá vou eu, cumprir minha função de gente e ser vivo . Quando a comida deixa de ser diversão, sei que estou triste. O mesmo acontece com a vida. É chato viver por obrigação.

do nome das coisas

As coisas nascem e logo têm um nome. Diria mais, diria mesmo que sem nome parece que as coisas nem são direito, uma mania essa, dar nome para as coisas porque parece que é com nome que as coisas são.
O maior parto do blog foi o nome. E que nome besta. Mas enfim, tá valendo, e continua valendo, até não valer mais.