quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O narcisismo da gripe

A xpressão é da minha amiga Nina, que estava gripada mas topou sair porque "é bom eu sair desse narcisismo da gripe".
Achei fantástico.
É assim: a gente fica gripada, a cabeça dói e o corpo dói, e aí de repente começa a doer tudo o mais. A gente se concentra nos graus da nossa febre, em cada um dos nossos ossinhos, no nariz que não pára de escorrer. E a gente pensa assim:
- estou gripada, estou gripada, estou gripada...
e fic ana cama, gripada, pensando na gente mesmo e em como a gente está gripada.
É o narcisismo da gripe.

Em alguns casos a síndrome não só pode como sempre parece evoluir:
estou gripada, estou horrenda, não tenho remédio, não tenho dinheiro para comprar remédio, não tenho me alimentado bem, não me cuido bem, não tenho quem cuide de mim, a vida é uma merda, a existência é uma merda, nunca mais vou sarar, estou gripada, meu nariz está do tamanho de uma melancia, acabou o lenço d epapel, acabou omundo também, eu, eu , eu - gripada.

Então, minha amiga, que não é boba nem nada, se obrigou a sair de casa, e ficar gripada ao lado de gente, para sair do narcisismo da gripe, tirar os olhos do termômetro da doença própria e perceber que o mundo continua girando, que há inclusive gente se amando, chorando, cuidando dos filhos, se cuidando, se querendo, se largando, envelhecendo, nascendo, vivendo.
Sair do narcisismo da gripe é sair de um certo gozo com o sofrimento próprio. A gente até pode falar que não, mas é bem fácil se afogar em nossa própria doença, de tão encantados que ficamos às vezes com ela, ou elas - porque as doenças são várias.

perigoso isso, do narcisismo da gripe. É necessário tomar cuidado com ele e, às vezes, um instante que seja de olhar para fora, já resolve. nâo há nada como perder um pouco da própria importância.

Nenhum comentário: