segunda-feira, 16 de março de 2009

a vida anda

Quais são os indícios de mudanças? A gente vai e vive os dias e de repente se dá conta de que algo mudou, de fato e de maneira profunda, que a vida já não é mais a mesma de um tempo atrás.

O Alex fala que a namorada virou namorada-mesmo, quando o porteiro já não interfonava para avisar que ela estava subindo. Eu passei a dar aulas-mesmo, senti-me uma professora de verdade, quando não precisava ficar lendo tudo o que havia preparado e sabia o que tinha que dizer, pelo coração e pelo saber.

Um dia, a calça muda de tamanho, e você passa a usar uma numeração maior ou menor. Um dia você acorda e se dá conta de que os fios de cabelo estão definitivamente brancos demais e passa a pintar os cabelos. Um dia você percebe que não consegue mais dormir sem antes ter falado com o alguém. Os móveis mudam, as pessoas envelhecem, os sentimentos envelhecem, os sentimentos mudam, casais separam-se e amigos tão próximos tornam-se distantes.

São estranhas as mudanças da vida. A gente vive no presente e ele parece sempre eterno. Quando a gente gosta de alguém, não tem essa de imaginar que algum dia esse sentimento pode mudar, que tudo aquilo que significa tanto àquela hora algum dia não significará mais nada, ou será apenas uma lembrança de uma época que já passou. É muito estranho lidar com os novos territórios que a vida traz, se readaptar, e se reconhecer novamente, a cada nova mudança, seja da cor de cabelo, do jeans da calça, dos amigos que agora são pais, de um coração que não é mais o mesmo. Eu vivo me surpreendendo comigo mesma.

Ontem havia um novo homem tomando café da manhã de domingo na minha casa. Um ritual tantas vezes repetido,do domingo de manhã, da saída para a compra dos jornais, do pão, da música, do café da manhã lento. Um momento sempre bom e de extrema intimidade. Olhei para ele e nele vi os outros homens ( não são tantos, são bem poucos) que estiveram ali, naquela situação, do domingo preguiçoso de manhã, do café da manhã sem pressa e bom, de tanta intimidade.

Olhei e pensei: a casa é a mesma, eu sou a mesma, e é tudo tão diferente. Para onde foram, todos os outros futuros, todos os outros domingos?

E me deu uma melancolia porque me deu uma sensação muito forte de que de fato os momentos passam, que mesmo aquilo que a gente achava que ia durar muito não dura tanto assim, e eu - mesmo feliz e inteira ali naquele momento - senti saudades de muitos cafés da manhã passados. E de quem eu fui em cada um deles. Saudades e um enorme amor, muitos enormes amores. E esse novo homem, paciente, ouviu minhas histórias, me abraçou, e um novo domingo se fez. De novo e sempre.Sempre.

ai, ai...

8 comentários:

Liana disse...

Não tens idéia de como me identifiquei com esse texto. E talvez muitas outras pessoas venham a se identificar.
Às vezes tenho medo de "chegar no futuro" e me dar conta de aquilo não é o que eu tinha imaginado pra minha vida. E às vezes olho para o passado e vejo que meu presente talvez não seja bem o que eu planejei. Por outro lado, isso me ajudou a ver que não dá pra deixar o leme solto nos levando pra onde a maré levar, que agora se eu quiser algo de um determinado jeito, tenho que tomar a direção, mesmo que para isso eu precise fazer muita força para ir contra a maré. :)
Isso é bom, nos dá força, nos faz capaz de coisas que imaginávamos não sermos capazes (no bom sentido, hehe).
Bom, isso tá virando outro post. :D
Acho que estou com vontade de divagar hoje.
Beijo moça, nem te conheço, mas gosto do que escreves e fico aqui conversando como se fosse uma velha conhecida. :P

Liana disse...

opa! Não tão velha!! xD

Milton Ribeiro disse...

Belíssimo post. Maravilhoso mesmo.

www.mirandaocorretor.blogspot.com disse...

Lu,

Seu post é de uma beleza comovente. Nem sei o que falar, lindo demais.

Obrigado por mais este texo maravilhoso
miranda

analu disse...

A vida anda e as vezes a gente encontra umas pedras pelo caminho. Me desculpe o mal jeito essa semana e brigada pelo carinho.

Beijo

Anônimo disse...

Olá...
Tão lindo o texto!
Cá por mim, é algo como uma nostalgia instalada, quase permanente, uma eterna saudade, ainda que o presente seja inteiro, completo, o que me leva a registrar cada coisa que sinto, vivo, vejo, impulsionada por um certo medo de perder no esquecimento o hoje, por simplesmente não poder revisitá-lo depois. Difícil explicar essa necessidade de agarrar a vida, esse apego tão grande...

Um abraço!

@LuMetal disse...

Oi!
A ana me falou que vc visitou meu blog e gostou. Isso pra mim é um elogio e tanto!
E posso falar que adorei o seu também!

bjs
Lumetal

caco disse...

Não sei se continua valendo ,isso tambem não importa agora,Poderia ficar aqui falando de você e acho que sairia daqui com uns 53 anos,não sei mais onde começa minha vida e termina a sua ,essa mutação de amor me fez virar uma parte de você,casete que saudades sinto de você e ver você,fraguimentos de sua pele ainda estão sobre a minha,minhas palavras e voz se calaram quando você sumiu do meu campo de visão,ficarei em silencio até poder te ver de novo ,esse silencio traz sua voz aos meus ouvidos ,fico imaginando onde você esta agora ,e me alimento do seu ultimo olhar .como é facil amar você,muito muito facil.