terça-feira, 23 de setembro de 2008

essas pessoas e seus grupos

Nos último dias estive em duas festas e em ambas espantei-me com a especificidade dos temas. Essas pessoas que gostam de andar em grupo, que mergulham na sua turma e acabam criando uma linguagem, um repertório e até mesmo um gestual e estilo comum me parecem muito, muito chatas... São verdadeiras festas temáticas, formadas por essas pessoas, e seus grupos.

A ver:

Festa dos nerds.
Sim, meus amigos. É claro que a festa dos nerds é sempre em um apartamento, regada a pizza barata, cerveja e cachaça de nome esquisito, tipo Clodoaldo, Clodomiro, algo assim. Deixem-me deixar bem bem claro que amo meus amigos todos, e que talvez eu mesma possa segundo os critérios nerdolengos ser encaixada nessa tal dessa categoria, sei lá, nunca fui boa em esportes e sempre amei ler, gosto de quadrinhos e senhor dos anéis. No entanto, no entanto...
Quando a gente está entre pessoas que de três em três frases riem comentando como são de fato mesmo realmente nerds ( com uma ponta indisfarçável de orgulho) e logo lembram de mais um episódio obscuro de algum filme ou série, e de outro e de outro, e horas se passam e ninguém, ninguém, contou nada sobre a vida, sobre coisas que aconteceram fora dos quadrinhos, do devedê ou dos livros, a gente fica realmente convicta de que, meu deus, ainda bem que os quadrinhos, os filmes, a tevê, existem, senão esse povo todo não teria do que falar. Quando começaram a falar sobre sandman pela quinta vez, fui embora.

Festa do povo de teatro
A festa do povo de teatro acontece sempre num Espaço. Um lugar, cabaré, espaço, no teatro mesmo, sei lá. Na festa do povo de teatro, se a festa é dada por um diretor de teatro, tem muitas atrizes. Muitas atrizes. Atrizes demais. Você chega, entra, e já se sente num ambiente cênico. É bom porque todos te comprimentam com abraços calorosos, massagens, selinhos, gritos histéricos, manifestações públicas de afeto mil. Depois de um tempo enche um pouco: sai prá lá que essas costas são minhas! E depois, a diversão com os figurinos de todo mundo também cansa, e eu me peguei torcendo para ver qual atriz perderia primeiro a pose e se jogaria de fato e de vez na festa. Mas isso não aconteceu. Isso nunca pode acontecer. Todos, todos, estão muito muito preocupados com seu papel, sua performance, seu personagem. A pista de dança é uma coisa louca, você se sente assim numa espécie de show de contorcionistas de circo, todos dançando com as mãos, fazendo caras e bocas e cenas e logo chega o momento em que todos começam a se esfregar porque todos todos são pessoas muito sexuais, sabe? E tudo é tão posudo, e há tantas divas em cada metro quadrado que tudo aquilo fica chato, muito chato... Quando a quinta atriz veio fazer performance em cima de mim, fui embora.

Festa dos intelectuais:
A festa dos intelectuais não é festa, é jantar, oferecido por alguém em sua bela casa. Regado a vinho tinto, com direito a conversa sobre vinhos e preços, e descobertas de tal oferta e retrogosto de ameixas com cogumelos e etc. A comida também é boa. Se for a intelectualidade festiva de esquerda, talvez o tema seja brasileiro, com direito a carne seca com quibebe e tal e talvez role uma caipirinha legítima de cachaça de limão, porque essa falsidade de caipiroska de kiwi não é para intelectual que gosta de povo. Se for uma intelectualidade que já virou professora da usp, a comida será italiana ou francesa, e a bebida é vinho mesmo, embora - é claro - todos ainda continuem gostando de povo e coisas do povo.
No jantar todos são muito bem comportados e bem vestidos, com toques de personalidade e charme, principalmente as mulheres mas ninguém vai comentar sobre unha ou cabelo, pois afinal todos têm consciência social e estamos noBrasil e em meio a tanta desigualdade social não se pode perder tempo e dinheiro com futilidade. Falarão sobre política, sobre bolsas( não as da Prada, aquelas de pesquisa) , sobre financiamentos, sobre as universidades, sobre ensino público e privado, sobre seus papers colóquios e conferências, sobre Marx e tal. Na quinta citação, fui embora.

Festa das bees:
A festa das bees acontece numa buatchy. A música geralmente é boa e a gente tem que caprichar no modelão pois todos vão reparar em tudo: nas suas unhas, no seu sapato, na sua bolsa, tudo. Se o modelão estiver muito bacana talvez uma bee peça sua bolsa luxo emprestada e saia por aí desfilando pela festa com ela, luuuxooo. Lá, as pessoas não dançam, batem cabelo, sobem no salto e se jogam. Todas ficam falando dos seus casos, dos bafos, e o drama é sempre intenso. Tudo é hiperlativo, na festeeenha das bichas, e as conversas são sempre pontuadas por manifestações efusivas de alegria: tuuu-dooo! A-do-ro!! A-rra-sou. Tem que falar assim, separando as sílabas. As pessoas são todas A-miii-gass, ou gaa-tasss, ou beee-chass. Sempre, sempre, em algum momento, haverá uma louvação à Madonna. As pessoas são até divertidas, mas no quinto papo sobre estilista, e ao ver o quinto casal de homens lindos se agarrando... fui embora.

Talvez ande meio chata. Definitivamente ando de mau humor e cansada. Mas gostaria, um dia,de ir a uma festa onde houvesse bichas e nerds e atrizes e intelectuais e jornalistas, e gente. E onde todos se misturassem e os papos não fossem tão previsíveis, e a bicha pudesse conversar com o aficcionado em quadrinhos, e a atriz com o professor, e todos dançassem e... enfim...
As pessoas, cada vez mais, me parecem muito interessantes. Mas teimam e teimam em andar somente com pessoas que nem elas mesmas, e qualquer grupo específico, onde todos fazem as mesmas coisas, ouvem os mesmos discos e frequentam os mesmos lugares me parece muito, mas muito desinteressante...
A diversidade é bela na mistura. Festas temáticas - que não sabem que são temáticas - me enchem.

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